Fui andando nas nuvens a ver onde daria. Eram fios de cabelo tão finos quanto macios de um homem tão antigo, de pés em forma de raiz que tocaria o mais fundo da terra e de mensura esbarrável no sol ou na escura agitação das maternidades-cemitérios de estrelas.
Ía em passo descelerado. Ele mesmo não saberia dizer o que era o oposto disso, porque chegar era um lugar que ele nunca ouvira falar. Andarilhava e o caminho lhe dizia onde ir e seguia sempre vendo, e ao ver, se transformava. Para cada alumbramento provocado por uma contemplação, estabelecia ele as bases de um novo ser e ali cultivava as poeiras abençoadas de cada pensamento inútil e bem-vindo. Pois a vida era feita de distração.
30.10.07
O melhor poema que jamais escrevi
Esse vai em conta dos que mais agradam a auto-crítica. Me traz umas lesminhas de Manoel de Barros, babando vestígio no que digo. E na poesia, quando a boca abre para o grito, estatifica num movimento constante que, salvo os homens não a calem por ignorância de qualquer caráter, se destina a zumbir nas almas errantes através dos séculos.
Tudo bem, isso tudo não é pra mim, certo? (rs)
O melhor poema que jamais escrevi
O melhor poema que jamais escrevi
tem doze versos octassílabos e oito alexandrinos
Mas é todo livre e branco
O melhor poema que jamais escrevi
possui a beleza da própria musa,
os ouvidos do mais alerta,
o olhar da esfinge
e o mistério das pirâmides
O melhor poema que jamais escrevi
tem um gérmen de árvore
rompendo por sobre seus pés
é melhor que ele mesmo
e tem um sabor condescendente
Quando perguntado - de quem é a culpa?
(ele abre um risonho)
O melhor poema que jamais escrevi
Nunca aceitaria um poema melhor
Sob pena auto-destrutiva
de ser menos escrito do que jamais foi
para se a-fazer melhor do que já é
Por fim, o melhor poema que jamais escrevi
não teria meio de se fazer,
Pois perdido no labirinto das opções
No polilema de se querer tudo-todo em todo nicho,
acaba tomando bicho no ego
e definhando
Isso, porém, minha gente, sem dor
Pois o melhor poema que jamais escrevi,
jamais foi escrito
e é a própria morte
na forma de uma vida sem existir.
27.10.07
fragmentos II
A janela tremeu, o inverno disse. Não de frio, que isso é de homens, mas de tristeza. Ameaçou chover, ventou. Suposta mudança: e tudo ficou para depois. As roupas saíram do varal, os cães foram para os canis, o que secava na sacada se recolheu, esperando para evaporar. Tomou-se ordem de aguardo do estio antes mesmo do início da tempestade, porque nessa vida pede-se que os homens se antecipem as tragédias, ainda que ninguém avise com precisão quando vai morrer.
25.9.07
Uma, várias ou nenhuma realidade
(Fonte: google)
Servindo de resposta a quem questiona minhas escolhas e/ou as de qualquer pessoa.
Somos todos aptos a ter opiniões sobre nossas atitudes e a dos outros, mas devemos estar cientes de que tanto nossos critérios de auto-avaliação, bem como de avaliação do outro, são comprometidos pela restrição do olhar contaminado, e conseqüente distorção da nossa própria realidade, além do desconhecimento da realidade do outro e de como ele a vê e processa. Sendo assim, realidade é um conceito abalado pela tensão que o ataca em determinadas circunstâncias de análise.
(L.P.)
Servindo de resposta a quem questiona minhas escolhas e/ou as de qualquer pessoa.
Somos todos aptos a ter opiniões sobre nossas atitudes e a dos outros, mas devemos estar cientes de que tanto nossos critérios de auto-avaliação, bem como de avaliação do outro, são comprometidos pela restrição do olhar contaminado, e conseqüente distorção da nossa própria realidade, além do desconhecimento da realidade do outro e de como ele a vê e processa. Sendo assim, realidade é um conceito abalado pela tensão que o ataca em determinadas circunstâncias de análise.
(L.P.)
20.9.07
Tão simplório, tão pouco literário, mesmo assim, tudo que eu tenho querido dizer, ou melhor, tudo que eu tenho pedido, quando não sei se existe alguém a se pedir.
Esse mal humano de só saber(??) lhe dar consigo mesmo. Desconhecendo ou se embaraçando com tudo que diz de outro jeito.
Esse mal humano de só saber(??) lhe dar consigo mesmo. Desconhecendo ou se embaraçando com tudo que diz de outro jeito.
é preciso estar zen para estar só
não estando só, estando mais
acompanhado do mundo e de ninguém
estando bem e gestando a paz.
14.9.07
Pequenos metadiálogos
11.9.07
31.8.07
Ah, essas madrugadas de meu deus
Nada que morre, morre demais
Nem o que vive, vive o bastante
Tudo é meio vida, meio morte
Estranho, belo, torto, delirante.
Um riso sincero cairia bem agora. Ah, essas madrugadas de meu deus...
Saibam que só se lê um livro na sua terceira leitura.
Já dizia Nelson Rodrigues: "Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos.". É a reflexão poética me arrebatando.
15.6.07
Assim vou
3.5.07
O início no meio
Com esse post escrito no início do ano e jamais publicado, retorno, como se o ano recomeçasse, mesmo que ele já se aproxime de sua metade. O texto constava aqui como incompleto. Permaneceu, porém, igual em relação a data de escrita, pois percebi que ele possuía sim completude, só não possuía ambição, que por pouco eu lhe quis imputar. Assim não foi, melhor assim.
Registrou-se a presença de 600 mil pessoas nesta virada de ano em Cabo Frio. Não sei com que precisômetro, mas dizem eles, melhor, ga-ran-tem, que os números são fiéis.
Realmente a praia estava repleta e não se via chão de areia. Mares de gentes, mares de barracas e guarda-chuvas, mares de água salina. Sim, guarda-chuvas e guarda-sóis, um carnaval de tamanhos e cores com o mesmo fim de proteger das últimas gotas do céu de 2006, por converterem-se nas primeiras de 2007. No meio da multidão, perdi a contagem, o melhor momento - talvez eu passe esse ano, dito iniciado, crendo em um 2006 que não terminou -, quando meu irmão me informou, já era 00:01 de 2007 depois de Cristo. Um ano que começou sem me avisar.
No entanto, a surpresa dos minutos céleres, passados no despercebimento, trouxe a piroctenia prazenteira. Exato: fogos de artíficio, mais ao vivo do que nunca. Nesse quesito, me iniciei junto com 2007, já que os espetáculos presenciados anteriormente eram singelos. No mais, vez ou outra ao longo dos anos, presenciei o estouro e o encantamento visual e sonoro da piroctenia, ironicamente, quando os carregamentos dos trabalhadores ilícitos chegavam nos seus postos de venda.
Valeu-me os primeiros minutos do ano. Árvores douradas, imensas, se dispersaram pelo céu sem estrelas. Porém, cada vez que uma luz em brasa se punha em nossa direção, eu poderia jurar que as estrelas recolheram-se para não dividir a cena. Lindos espirais de um roxo vivo, corações risonhos, chamas bambuleantes que riscavam os céus, os estrondos que vibram, como saborosos mantras. Cores, tons, nuances, desenhos, tudo muito efêmero. Os olhos grudados esperavam para saber qual seria o próximo presente a ser desembrulhado lá no alto, naquele firmamento sem referências. Um papel em branco, no qual os brinquedos de magia do homem tinha o livre espaço para cintilar.
Registrou-se a presença de 600 mil pessoas nesta virada de ano em Cabo Frio. Não sei com que precisômetro, mas dizem eles, melhor, ga-ran-tem, que os números são fiéis.
Realmente a praia estava repleta e não se via chão de areia. Mares de gentes, mares de barracas e guarda-chuvas, mares de água salina. Sim, guarda-chuvas e guarda-sóis, um carnaval de tamanhos e cores com o mesmo fim de proteger das últimas gotas do céu de 2006, por converterem-se nas primeiras de 2007. No meio da multidão, perdi a contagem, o melhor momento - talvez eu passe esse ano, dito iniciado, crendo em um 2006 que não terminou -, quando meu irmão me informou, já era 00:01 de 2007 depois de Cristo. Um ano que começou sem me avisar.
No entanto, a surpresa dos minutos céleres, passados no despercebimento, trouxe a piroctenia prazenteira. Exato: fogos de artíficio, mais ao vivo do que nunca. Nesse quesito, me iniciei junto com 2007, já que os espetáculos presenciados anteriormente eram singelos. No mais, vez ou outra ao longo dos anos, presenciei o estouro e o encantamento visual e sonoro da piroctenia, ironicamente, quando os carregamentos dos trabalhadores ilícitos chegavam nos seus postos de venda.
Valeu-me os primeiros minutos do ano. Árvores douradas, imensas, se dispersaram pelo céu sem estrelas. Porém, cada vez que uma luz em brasa se punha em nossa direção, eu poderia jurar que as estrelas recolheram-se para não dividir a cena. Lindos espirais de um roxo vivo, corações risonhos, chamas bambuleantes que riscavam os céus, os estrondos que vibram, como saborosos mantras. Cores, tons, nuances, desenhos, tudo muito efêmero. Os olhos grudados esperavam para saber qual seria o próximo presente a ser desembrulhado lá no alto, naquele firmamento sem referências. Um papel em branco, no qual os brinquedos de magia do homem tinha o livre espaço para cintilar.
17.2.07
"Sobre escrever estórias" com Nelson Galot
Finalmente, falando sobre a escrita de estórias com Nelson Galot.
Sobre escrever estórias, julgo que taxar a dificuldade entre as etapas "início, meio e fim", muito limitado. Há estórias sem início, outras sem meio, muitas sem fim. Outras estórias possuem apenas fim ou início. Alguns autores escrevem quase todo tipo de estórias, a maior parte se especializa em alguma delas. Porém, quando a estória é muito boa e o tema favorece, esses segmentos serão visíveis apenas na mente do processo criativo do autor, pois forma-se uma unidade. Uma unidade que não começa, nem acaba, apenas é.
Minhas estórias, pelo menos as poucas que fiz, as ideais, não possuem fim. O fim, para mim, foi feito para se perder dentro de quem lê e isso não significa fabricar angústias, pelo contrário, o enigma, o mistério, são as pontes. Digo ao leitor "aqui está, fiz até aqui e escrevi isso com um motivo específico que eu não saberia explicitar senão desta forma. Agora, com estas peças que lhe forneço, signifique-a e insira na sua vida da melhor forma que puder". Assim espero que seja, afinal, quanto mais conduzo a estória, menor seu público pode se tornar e mais estúpido me sinto de estar reduzindo o construído à uma pequena coleção de precisas e localizáveis idéias. O absurdo e a poesia são imprescindíveis para exaurir a escuridão da rotina.
Muito em breve: o nascimento do anti-herói carioca, desde o início, fim, meio ou em sua unidade. Até.
Foto: google, espalhando as imagens pelo mundo.
10.2.07
Um chá
Foto: google.
Te arranhei o rosto com a unha e você disse ai rindo. Eu ri, você ria, a gente fundiu num beijo. Veio um silêncio de cozinha em noite quente.
Levantei me desgarrando: você quer chá? - de costas.
Não.
Você não queria mais nada. Me olhava apenas - Ingênuo, doce... - e pensava o tanto de amor e de admiração, as festas, os amigos em comum, as perdas juntos, os ganhos partilhados, cometários, risos, satisfações. Muitas, todos os dias.
- A gente não carrega nada desse mundo, amor?
- Como?
- Você acha... A gente leva alguma coisa?
Uhm. Suspirei, sorri leve. Olhei teto e chão de ladrilho.
- Eu não sei, meu amor... eu não sei. Acho que depois que algumas coisas acontecem, a gente... não quer saber. Não quer... Para que?
Meu queixo desceu um pouco e meu olhar lhe caiu dentro.
Voltamos num beijo e o chá evaporou nos dias.
Te arranhei o rosto com a unha e você disse ai rindo. Eu ri, você ria, a gente fundiu num beijo. Veio um silêncio de cozinha em noite quente.
Levantei me desgarrando: você quer chá? - de costas.
Não.
Você não queria mais nada. Me olhava apenas - Ingênuo, doce... - e pensava o tanto de amor e de admiração, as festas, os amigos em comum, as perdas juntos, os ganhos partilhados, cometários, risos, satisfações. Muitas, todos os dias.
- A gente não carrega nada desse mundo, amor?
- Como?
- Você acha... A gente leva alguma coisa?
Uhm. Suspirei, sorri leve. Olhei teto e chão de ladrilho.
- Eu não sei, meu amor... eu não sei. Acho que depois que algumas coisas acontecem, a gente... não quer saber. Não quer... Para que?
Meu queixo desceu um pouco e meu olhar lhe caiu dentro.
Voltamos num beijo e o chá evaporou nos dias.
1.2.07
A Babel dos nossos dias
Matadouro do Dia
(Brasigóis Felício)
Avisem os tristes da cidade:
darei de beber
de meus olhos naufragados
a quem ficar a meu lado.
Darei de comer de meu corpo violado
aos nus, aos desesperados.
Venham beber o vinho amargo
da minha bêbada amizade
os que nunca se encontraram.
Voltaremos tristes para casa
(o peso do mundo nos ombros).
Só depois de beber, e ficar puros
esqueceremos as coisas
(seus escuros muros altos).
Venham beber o vinho amaro-amargo
do meu sangue torturado.
No porto inseguro de mim
há pão e fel para todos.
O país é rico e sujo:
amanhã seremos degolados.
Darei de beber
de meu sangue aleijado
aos tristes, aos suicidas
aos pederastas, às prostitutas.
Vamos todos, mutilados
ao matadouro do dia!
Foto: google, o recanto do alheio.
Amanhã, uma troca de idéias com Nelson Galot.
Quero ver "Babel", parece a verdadeira e original dos dias hoje, muitas recomendações positivas.
27.1.07
Pequena lista de não obrigatoriedades
Foto: Banksy
Pequena lista de não obrigatoriedades que podemos reivindicar, se quisermos:
01. Não temos de ter sentido
02. Não temos de ser úteis
03. Não temos de ser felizes
04. Não há provas de que seja possível acabar com os conflitos
05. Não temos de preservar a nós mesmos
06. Não temos de nos casar
07. Não temos de ser medíocres
08. Não temos de ser excepcionais
09. Não temos de provar nada a ninguém
10. Não temos de ir a lugar nenhum
11. Não temos de aturar exploração
12. Não temos de aceitar as coisas sem reclamar
13. Não temos de ser independentes
14. Não temos de ser livres
15. Não temos de ser humanos, se não é assim que nos vêem
16. Não temos de ter modos
17. Não temos que adivinhar coisa alguma
18. Não temos de ter certeza
Uma lista dos direitos e dos deveres seria muito mais complexa.
As discussões se perpetuarão por muitos anos, séculos, milênios.
Haja visto que os artigo 4, 9, 11, 12, 14, 15, etc são sempre válidos.
Além disso, reinvidico o 18º para postar isso, até porque, entre o sim e o não, existem muitas distâncias, diversas nuances.
23.1.07
To be continue ou Por onde váis criatividade?
Foto: LP
Eu que tanto gosto de chamar os amigos de "trolha" entre outros adjetivos sempre carinhosos.
Ah propósito: onde estará a criatividade, senão, se perdendo pelas rotas de minhas mudanças?
Mas ainda luto por ela. Se pretendo viver disso... (o salário deve ser calculado em leão/dia).
Preciso estudar. Frequentemente questionamentos idiomáticos me assomam.
Hiato manda um abraço!
trolha | s. f. | s. m.
do Lat. trulha
s. f.,
pá de pedreiro;
fam., pop.,
bofetada;
pop.,
briga;
pancadaria;
s. m.,
pedreiro ordinário ou servente de pedreiro;
deprec., pop.,
homem desprezível;
maltrapilho.
Porque esse blog andava um pouco sisudo a mais do que deveria.
siso | s. m.
1ª pess. sing. pres. ind. de sisar
do Lat. sensu, sentido
s. m.,
bom-senso;
circunspecção;
juízo;
prudência;
prov.,
rodela de cortiça que alarga o bojo da roça.
dente do -: o último dos queixais que nasce no
adulto;
loc. adv.,
de -: sensatamente.
Pois, como diz Adriana Calcanhotto, "Eu não gosto de bom senso, eu não gosto de bons modos. Não gosto".
Tomara que haja poesia o bastante para viver. Lirismo que alimente!
11.1.07
Como desmontar uma receita de anúncio
Receita para desmontar receitas.
Bom apê-tite! Subdivirta-se!
Crepes de Morangos com Cobertura de Chocolate
11/01/2007 14:3e8
Ingredi, Entes queridos!:
Márssia:
# 1 pot-inho iogurte Pop Vherm (250ml)
# ½ xícara (Xá) de-leite
# 2 alvos
# 1 colher (s-opa!) manteeeeigaaaaaa
# ½ xícara (cháu) bramido de milho
# ½ xícara (cháto) farinha de entrigo
# 3 colhe rés (sou par) açúcar
Rei Cheio, Vsa. Excelência Majestosa:
# 1 Pol Potinho iogurte Pop Vherm (250ml)
# 1 caixi, nhá morangos sal-picados
# 1 col herr (só pá) amigos de milho
# 3 co lheres (s-opa!) àçocar(e trair: é só começar)
Cobertura, botão C, 38º andar:
# 200entos g chocolate meio amargo, meio doce, meio picado
# 1 caixinha creme-de-la-creme deleite (200ml)
Modo de reparo:
Para a massa batato dos ingredientes no liqui de ficador. Deixe amassa des, cansar por 10 minutos, frite-na, frigideira leve, mente untada com manteiga e re. Serve. Para o re-cheio, bata Também, no liquidificador o iogurte pot merth, meta de dois morangos, o amie, dó e o açúcar. Transesfirra para uma pá nela e misture até en cor par(ímpar?). Então coloque o restante, dois morangos, e reserve para namorar. Para a cobertura: colo. Que em uma vasilha o Choco, late! E o cr-M de leite. Der... reta no mic. Ro-ondas ou em banho-Marisa. Misturve e reseure. Monte seus preces(para banho-Ave Maria).
Coloque uma colher de ré, cheio, no centro da massa, dobre em formato de mo-leque e cubra com o choco. Late ainda quente. Sir. Vá com bolas de sorver-te de ioturge Hop Serm(ão).
Bom apê-tite! Subdivirta-se!
6.1.07
Estar nu ou não estar nu?
Após longo hiato na escrita e algumas tentativas infelizes, decidi retomar as palavras, as frases, aos pensamentos aqui.
Um chamado foi a conversa que tive anteontem, com uma amiga, sobre estar nu e a sensação que nos provoca. Ela me disse que dormia nua. Lhe confessei que isso me causava incômodo - não que dispensar as roupas não ofereça uma sensação de liberdade e por um lado até excite vaidade, intimidade -, acontece que a roupa que nos veste todos os dias e a qual nos habituamos, serve a mim como um casco, não só uma proteção, de forma que chego a sentí-la como uma espécie de esqueleto exteno. Sem ela, pior do que exposto, sinto como se fora desintegrar-me.
É uma concepção que eu desconhecia. Interessante, creio, até certo ponto estranha e que se mostra um pouco feia, afinal dependemos tanto socialmente e psciologicamente desses pedaços de pano que nos cobrem os pudores. É uma conclusão bem óbvia, tendo em vista o código de bom convívio que a sociedade ocidental vem perpetuando.
O corpo coberto é a pertubação e anti-praticidade da convenção, no entanto, é também o preço que se paga pelo antigo jogo do mostra-esconde. Se não houvesse a vestimenta, não haveria a excitação com nu, a curiosidade, em suma, não existira o que ser mostrado.
Ainda na defesa, pode-se colocar o acréscimo à estética do ser humano que a indumentária embute. À partir da roupa, do estilo, do visual, as pessoas se expressam. É importante ressaltar que, ao falar de indumentária, não se considera apenas tecidos coloridos cortados e costurados, contudo, também os acessórios: piercings, brincos, tatuagens, mutilações e pinturas e uma infinidades de signos e adornos que o homem cria. Podemos dizer de onde elas vêm, de quê gostam, enfim, traçar um perfil superficial. Isso, porque é cada vez mais impreciso a capacidade de informação que a indumentária e os acessórios periféricos podem nos fornecer devido a massificação, a transnacionalização da produção, a globalização e seu mix-shake, no melhor estilo capitalista de se apropriar, distorcer significados, resignificar, reinventar, criar novas utilidades, até novos estigmas e preconceitos. A roupa de preço elevado enxerga um público sedento pela exclusividade, a ostentação é uma forma de destaque, demonstração de poder, imposição da superioridade. São os V.I.P's(para mim, Very Idiot People ¬¬).
Faca de dois gumes.
As zonas de nudismos foram uma solução interessante para se extravazar esse desejo de despir-se. Despir-se, não tirando a roupa, mas invertendo a lógica, não pondo-a. Estar como se nasce e assim conviver. As pequenas e despretensiosas idéias que demonstram a engenhosidade de uma sociedade que se reiventa, engloba, para não destruir-se, e nisso se complexifica.
O homem já experimentou tempos de nudez natural. Inclusive em nossas territórios tropicais e, por transgressões, imposições violentas, imperativos diversos ou qualquer outra causa que a história conhece bem, as transformações chegaram a nosso tempo assim. O sexo já teve maior liberdade, tanto no que diz respeito ao número de parceiros, quanto a sua forma de prática. Anéis e brincos já foram exclusivos para homens. A moda, se assim pudermos chamar, é uma página vasta e um plano de visão da história humana sempre interessante.
Analisada mais especificamente, por suas sucessões e processos de transformação ou como auxiliar na compreensão de contextos, na construção de anacronismos, representações, no entendimento da psiqué, da personalidade, do temperamento, na geografia e estudo dos
motivos humanos, todas as paixões que nos movem.
Bem, mas tudo isso começou porque minha amiga dorme nua e eu não gosto de fazer o mesmo. :)
Um chamado foi a conversa que tive anteontem, com uma amiga, sobre estar nu e a sensação que nos provoca. Ela me disse que dormia nua. Lhe confessei que isso me causava incômodo - não que dispensar as roupas não ofereça uma sensação de liberdade e por um lado até excite vaidade, intimidade -, acontece que a roupa que nos veste todos os dias e a qual nos habituamos, serve a mim como um casco, não só uma proteção, de forma que chego a sentí-la como uma espécie de esqueleto exteno. Sem ela, pior do que exposto, sinto como se fora desintegrar-me.
É uma concepção que eu desconhecia. Interessante, creio, até certo ponto estranha e que se mostra um pouco feia, afinal dependemos tanto socialmente e psciologicamente desses pedaços de pano que nos cobrem os pudores. É uma conclusão bem óbvia, tendo em vista o código de bom convívio que a sociedade ocidental vem perpetuando.
O corpo coberto é a pertubação e anti-praticidade da convenção, no entanto, é também o preço que se paga pelo antigo jogo do mostra-esconde. Se não houvesse a vestimenta, não haveria a excitação com nu, a curiosidade, em suma, não existira o que ser mostrado.
Ainda na defesa, pode-se colocar o acréscimo à estética do ser humano que a indumentária embute. À partir da roupa, do estilo, do visual, as pessoas se expressam. É importante ressaltar que, ao falar de indumentária, não se considera apenas tecidos coloridos cortados e costurados, contudo, também os acessórios: piercings, brincos, tatuagens, mutilações e pinturas e uma infinidades de signos e adornos que o homem cria. Podemos dizer de onde elas vêm, de quê gostam, enfim, traçar um perfil superficial. Isso, porque é cada vez mais impreciso a capacidade de informação que a indumentária e os acessórios periféricos podem nos fornecer devido a massificação, a transnacionalização da produção, a globalização e seu mix-shake, no melhor estilo capitalista de se apropriar, distorcer significados, resignificar, reinventar, criar novas utilidades, até novos estigmas e preconceitos. A roupa de preço elevado enxerga um público sedento pela exclusividade, a ostentação é uma forma de destaque, demonstração de poder, imposição da superioridade. São os V.I.P's(para mim, Very Idiot People ¬¬).
Faca de dois gumes.
As zonas de nudismos foram uma solução interessante para se extravazar esse desejo de despir-se. Despir-se, não tirando a roupa, mas invertendo a lógica, não pondo-a. Estar como se nasce e assim conviver. As pequenas e despretensiosas idéias que demonstram a engenhosidade de uma sociedade que se reiventa, engloba, para não destruir-se, e nisso se complexifica.
O homem já experimentou tempos de nudez natural. Inclusive em nossas territórios tropicais e, por transgressões, imposições violentas, imperativos diversos ou qualquer outra causa que a história conhece bem, as transformações chegaram a nosso tempo assim. O sexo já teve maior liberdade, tanto no que diz respeito ao número de parceiros, quanto a sua forma de prática. Anéis e brincos já foram exclusivos para homens. A moda, se assim pudermos chamar, é uma página vasta e um plano de visão da história humana sempre interessante.
Analisada mais especificamente, por suas sucessões e processos de transformação ou como auxiliar na compreensão de contextos, na construção de anacronismos, representações, no entendimento da psiqué, da personalidade, do temperamento, na geografia e estudo dos
motivos humanos, todas as paixões que nos movem.
Bem, mas tudo isso começou porque minha amiga dorme nua e eu não gosto de fazer o mesmo. :)
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