19.7.08

Precisar não é preciso

Adeus. Sou sessão do universo e ação do tempo no espaço, sou fragmento, e a cada repetição dessa, mosaico. O periscópio passeando sobre o real; ora caos, ora cosmos, ora caos, e toda a descontinuidade e potência do inesperado que advém dessa sina da intermitência a que fui condenado por culpa de precisamente nenhum, nenhuma. Vai ver mesmo que eu sou outra coisa. Como sempre digo "não sou antes de nada" e vou seguir não sendo e não seguindo. Oi.

13.6.08

Cultivando disposição

Me revirou tudo por dentro, tal que fiquei sem expressão: mas que era para expressar? Que haveria eu de expelir, se estava tudo aqui dentro em serena profusão, massageando o ânimo. Sei, parece mesmo egoísmo, até para mim, mas é que eu tinha outros modos e sempre me desencontrava no gesto, nas dimensões, medidas. Ainda assim, prefiro recusar as paralelas se o destino que para elas prevêem, for o de nunca se tocarem.

Deve ser tudo culpa desses dias de desencontro em que vivemos, cada vez menos convivendo e mais subvivendo. Tempos velozes, de muita informação e acessibilidade, no qual esquecemos de nós e nos perdemos. Faz parecer-nos condenados à errância, mas não faz mal: mais uma vez, me recuso a atender o mundo feito, em nome e sobrenome do novo, por brotar constantemente onde não haja relógios e fracionamento do eterno.

8.6.08

fragmentos III




Existe também nesta serena tristeza um movimento apicular, de intenso prazer dolorido, quase masoquista: mas que prazer não haverá de doer um pouco neste corpo pequeno, limitado? Que transcendência não haverá de extrapolar, reclamar o todo, quando já pelas tantas da madrugada nos depararmos com a singela figura humana frente ao espelho, singular, bela, e nos rirmos: então tomamos uma ducha de água fria e deitamos para sonhar sem descanso.

postando anacronicamente: terceiro fragmento postado, mas, salvo engano, o décimo segundo escrito.

20.5.08

Pequenos metadiálogos II: movimentos

"Do desânimo à euforia tão nu'minuto. Será que o mundo que se esgrandece ou a gente que o apequena? Depois a gente toma outro lugar nesse quinhão, as coisas se refiguram, parece que não se cansam de não cessar agitação. Mas não, é a gente, é a gente, é agente! Afinal, nada pára ninguém: é o que nos foi delegado. Quem é onde no aqui de amanhã? E no lá de hoje? Esperai, esperai o pensamento, esperai..." (LP, um "eu")

"Tem horas em que, de repente, o mundo vira pequininho, mas noutro de-repente ele já torna a ser demais de grande, outra vez. A gente deve esperar o terceiro pensamento." (João Guimarães Rosa, um "ele", in Primeiras Estórias)

18.1.08

A esperança é uma ilusão salvífica



"Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca"

(excerto de Eduardo Galeano)


É preciso refletir sobre os danos do modelo político-econômico no qual vivemos, tendo a mente alerta, pois fomos educados para reproduzir esse modelo, assim como não é fácil para um católico rechaçar sua benquista igreja, mesmo que racionalmente saiba de tantas falhas e não admita as arbitrariedades da mesma. Protejemos os amigos, diminuímos suas penas, culpas, somos todos assim. É preciso se embrenhar pelo denso e fechado campo do inédito, imaginar o possível dentro do impossível, ponderar sempre, bastante.

13.1.08

Ditos-entre-falas

Tenho certeza que sei falar de pouco, mas sei dizer muito sobre o mesmo. Isso não me torna artista, ora, todos têm o que dizer, e o fazem sem perceber, no meio de muita fala. Mas quando digo à meu modo, de todas as formas que sou capaz, deixando no outro o rastro de um trilho que me atravessa, tenho certeza: estou sendo artista.