6.1.07

Estar nu ou não estar nu?

Após longo hiato na escrita e algumas tentativas infelizes, decidi retomar as palavras, as frases, aos pensamentos aqui.

Um chamado foi a conversa que tive anteontem, com uma amiga, sobre estar nu e a sensação que nos provoca. Ela me disse que dormia nua. Lhe confessei que isso me causava incômodo - não que dispensar as roupas não ofereça uma sensação de liberdade e por um lado até excite vaidade, intimidade -, acontece que a roupa que nos veste todos os dias e a qual nos habituamos, serve a mim como um casco, não só uma proteção, de forma que chego a sentí-la como uma espécie de esqueleto exteno. Sem ela, pior do que exposto, sinto como se fora desintegrar-me.

É uma concepção que eu desconhecia. Interessante, creio, até certo ponto estranha e que se mostra um pouco feia, afinal dependemos tanto socialmente e psciologicamente desses pedaços de pano que nos cobrem os pudores. É uma conclusão bem óbvia, tendo em vista o código de bom convívio que a sociedade ocidental vem perpetuando.

O corpo coberto é a pertubação e anti-praticidade da convenção, no entanto, é também o preço que se paga pelo antigo jogo do mostra-esconde. Se não houvesse a vestimenta, não haveria a excitação com nu, a curiosidade, em suma, não existira o que ser mostrado.

Ainda na defesa, pode-se colocar o acréscimo à estética do ser humano que a indumentária embute. À partir da roupa, do estilo, do visual, as pessoas se expressam. É importante ressaltar que, ao falar de indumentária, não se considera apenas tecidos coloridos cortados e costurados, contudo, também os acessórios: piercings, brincos, tatuagens, mutilações e pinturas e uma infinidades de signos e adornos que o homem cria. Podemos dizer de onde elas vêm, de quê gostam, enfim, traçar um perfil superficial. Isso, porque é cada vez mais impreciso a capacidade de informação que a indumentária e os acessórios periféricos podem nos fornecer devido a massificação, a transnacionalização da produção, a globalização e seu mix-shake, no melhor estilo capitalista de se apropriar, distorcer significados, resignificar, reinventar, criar novas utilidades, até novos estigmas e preconceitos. A roupa de preço elevado enxerga um público sedento pela exclusividade, a ostentação é uma forma de destaque, demonstração de poder, imposição da superioridade. São os V.I.P's(para mim, Very Idiot People ¬¬).

Faca de dois gumes.

As zonas de nudismos foram uma solução interessante para se extravazar esse desejo de despir-se. Despir-se, não tirando a roupa, mas invertendo a lógica, não pondo-a. Estar como se nasce e assim conviver. As pequenas e despretensiosas idéias que demonstram a engenhosidade de uma sociedade que se reiventa, engloba, para não destruir-se, e nisso se complexifica.

O homem já experimentou tempos de nudez natural. Inclusive em nossas territórios tropicais e, por transgressões, imposições violentas, imperativos diversos ou qualquer outra causa que a história conhece bem, as transformações chegaram a nosso tempo assim. O sexo já teve maior liberdade, tanto no que diz respeito ao número de parceiros, quanto a sua forma de prática. Anéis e brincos já foram exclusivos para homens. A moda, se assim pudermos chamar, é uma página vasta e um plano de visão da história humana sempre interessante.

Analisada mais especificamente, por suas sucessões e processos de transformação ou como auxiliar na compreensão de contextos, na construção de anacronismos, representações, no entendimento da psiqué, da personalidade, do temperamento, na geografia e estudo dos
motivos humanos, todas as paixões que nos movem.

Bem, mas tudo isso começou porque minha amiga dorme nua e eu não gosto de fazer o mesmo. :)

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