30.11.06

E nos momentos livres?



(a pauta aguardando a música da sua cabeça...)



Hoje eu pensei umas coisas sob o céu chuvoso, em frente a faixa de pedestres, esperando o momento de me lançar rumo ao outro lado da rua: esqueci as todas e é sempre assim.

Mas lembro-me ainda que ontem pela noite estava refletindo... bem, em que as pessoas pensam quando não há nada para se pensar? Elas sonham? Elas filosofam? O que fazem? Eu queria muito saber, na medida do possível. Da minha parte, direi que sofro constantemente de hiatos no referido assunto. Mais ainda, eu sou apenas isso, o que me leva ter essas idéias desconexas e trabalhar no campo das correlações, uma vez que meu tabuleiro é branco antes do jogo e tenho a minha disposição as cores que colhi por aí. O ponto de partida comigo é sempre o zero, o início, a condição, o mote, o problema, o centro. Se não há foco, invento um com o que estiver por perto e eu julgar(ou não julgar) adequado(ou inadequado).

Porém, sei que, em se tratando de pessoas, relacionamentos, sociabilidade, se abre um clarão na minha mente e nunca sei o que dizer aos outros. Por isso frequentemente me prosto sem palavras diante de alguém e consigo, no máximo, entregar meu olhar em substituição a hábeis e inúteis palavras, que outros com sagacidade oferecem para amaciar os ouvidos alheios. O ser humano adora convenções e formalidades. Sou objetivo demais. Tenho o gosto pelas palavras-projéteis, certeiras. Prefiro o cerne das questões a dar voltas pela praça.

Em que pensam as pessoas quando não há obrigações a serem pensadas, no momento em que se encontram livres para pensar no que quiserem? Ou será que as coleiras dos tempos modernos já apertaram tão forte estes pescoços e a falta de oxigenação fez com que esses tantos seres das ruas e dos papéis sociais não conseguissem distinguir suas atividades de si mesmos?


Foto: LP

24.11.06

Chover é bom



Chuva reprimida



Um céu nublado:
não chove
Uma emoção retesando a pele:
não chove
Uma explosão calada,
como se o dia fosse um saco de areia
e a cama, o único caminho,

para adormecer a dor
até amanhã.


LP



31.10.06

Poeminha espirituoso

Um poeminha bobinho-espirituoso. Para ver se ele me anima algum sorriso.




A maçã dos sonhos

Sonhei com uma maçã
como se quisesse da fruta
sorver apenas a alma

Mas perdi minha calma
e caí da cama


LP

11.10.06

Superficialidade ou Luz própria?

Vinha pensando em pôr um poema aqui e esse não era exatamente o que pensei em colocar.
No entanto decidi colocá-lo e não sei o porquê. A imagem não foi aleatoriamente escolhida.
É importante fazer o que é preciso ser feito, não importa o quão contraditório aparente ser.




Luz d'outro

Se é preciso florir, por que anoiteces?
Se é preciso tecer, por que rasgas?
Se é preciso mágoas, por que foges?
Se é preciso raiva, por que cospes?
Se é preciso vestes, por que tiras?
Se é preciso lua, então tu vibras,
pois que é na luz d'outro que tu te iluminas.

LP

18.9.06

fragmentos I

O que eles não sabem



Tua tristeza me é inspiradora, mulher. Teus lábios contritos, derredor dos quais deslizam lembranças que amargas no teu mais recôndito.

Ah, mulher! Tu guarda meses no ventre.

Poucos, mas muito poucos mesmo dos que circulam sobre esta Terra, têm a capacidade de pensar a vida como ti. Não uma coisa de livros, técnicas, doutrinas. Isso também vai; todavia, além das religiões, ciências, inclusive das artes diversas, há um pensar sentindo. Intuição? Há sim e muita. Razão? Também, claro. Somadas, unidas... transformadas em mais.

As pessoas desse planeta me parecem desesperadas em viver, mesmo que não saibam quê vivem. Tu não... engraçado.

Questionas, indagas, revertes cenas. Esqueces também, ora, és humana; cometes erros muitos! Porém, ao percebê-los, lamentas. Em longo prazo é possível que lhes gargalhe: tudo nessa vida vira história e, o que magoa, pode também ser rido. Tragédia e comédia diluídos.

És um obstáculo à mente dos outros. Vais ser sempre estranha. Isso pode ser ruim, não se sabe, afinal não conheces o outro lado da moeda. Tua perspectiva é sagaz, sensata, por isso dolorosa. No entanto, tu ris: zombeteira... irônica... Sabe o que é que há? É que quando miras o céu vês estrelas – talvez lua – pintadas num imenso manto negro...

e enxergas também buracos negros. Sabe que estão perdidos ali, naquela sombra toda. Então tua mente incorre que o mundo se acaba, que vida se engole. Aí já fomos engolidos. Essa palhaçada se acaba e está acabada; já que o tempo não existia antes, ele não existe agora. Ora, o tempo não pode ser inventado!

Essas idéias te dão uma ousadia imensa que, admirado aquele que observa, não compreende donde vem e nisso, ignora. Pensam-te doida ou retardada. Coitados.

12.9.06

Dentro da madrugada

Acho que cabe nesta uma hora e quarenta minutos da madrugada, o seguinte poema:


Depois do sono

Alma renitente
Eu me entrego a não-entrega
Me devolvo a mim, recobro - sempre se perde um pouco.
Do salvo, faça novo caldo, esqueço o passado
Relembro o dobro. Hoje eu durmo, apago
Amanhã,
acordo outro.

LP

LP
trata-se de Leonardo Pereira, para que fique bem claro.

10.9.06

O dia não tem hora para amanhecer


Aquela greve não poderia mais continuar. Viu-se, então, na obrigação de pôr fim e dar continuação ao que não poderia parar: o show.

O mundo ainda gira, ele sente; o vento ainda sopra, ele agradece. Era preciso voltar. A casa está distante? É bem verdade. Todavia, que importa? Nada nos demoverá de forma demasiado fácil. É necessário muito mais para se nos arrebatar!

Hora de acordar, é hora de acordar. Mesmo o espírito mais livre, mesmo o corpo mais indômito, pede uma gota de disciplina.
- Levanta-te, homem! Abre teus olhos, afasta as persianas e vai ver a luz do dia!

Bom dia à todos. A manhã tem de recomeçar.

23.7.06

No caminho, em busca do caminho

Rompi o prazo, como meu espírito indisciplinado sempre faz. Me desculpem, mas também se for para atualizar de qualquer jeito, nem eu, nem esses transeuntes da rede estarão satisfeitos.



Desenho: Edward Hooper - Night Shadow.




No caminho, em busca do caminho

(Nelson Galot)


Meu lugar é nos filmes, a literatura é o universo e na sua menor partícula, a palavra, se descobre meu sentimento. É na palavra, ou na inexistência delas, que vão, parcamente, preenchendo minhas razões, como um alvo que de tantos acertos descentralizados, tem seu centro destacado. Talvez aí esteja o exprimir almejado: no espaço em branco, no não-dito, no suposto vazio, na transparência – enxerga quem alcança. Dessa miopia mais de meio-mundo sofre.

A música é a trilha, por isso as notas musicais, só, puras, sem número, sem desenho, marca ou qualquer registro são tão bem-quistas. Dão forma sem definir, se moldam dentro de cada ouvido, cérebro, se encaixam no compasso, na pulsação, ora em andamento acelerado, ora lento. Essa música todos ouvem, muito baixa e longínqua, mais ouvem. Nas fotos da infância, nas mortes, nas separações ela se faz escutar.

E de tanto falar o mundo já cospe nos olhos, de tanta carga, tombo no chão, encharcado e confuso. Diz-se muito pouco e não acho a peneira correta e definitiva. Não me venham traduzir o ocaso, por favor. É preciso escutar com os olhos, o nariz e o tato. O mundo carece de concisão. Nós, pessoas, padecemos de carinho e atiramos a súplica ou o mando; sujeitamos até como penalizados.

Está montado o salão, o baile vai começar: danço só, e pensam que sou louco. Contudo, a música embala, me envolve, me atravessa e não me resta dúvida: o engano é dos outros. No passar desengonçado, no meu ritmo, na minha trilha, no meu caminho, vou em busca do caminho. Me entender e compreender um pouco melhor o outro.
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1.7.06

Mais uma vez o tempo... e dessa vez o Rio também.

De antemão, aviso. Uma crônica ou pseudo-crônica: se é, ou não, vocês digam ali na parte de comentários. Repleta de meias verdades, afinal eu sou preciosista, odeio deturpar os discursos. Se eu mudo uma palavra, alerto que não é “sic”. Mas não foi só isso, entrou o contador de história(engraçado, nunca soube contar histórias, será que isso se aprende?), o escritor. Texto é texto, fato é fato. Cada meio desfruta de recursos diferentes para atingir as pessoas, para falar das mesmas coisas, então que cada um use o que pode. Afinal, não sou jornalista – ainda que meu texto seja tão fiel aos fatos quanto os que estampam os diários. Pelo menos aqui não tem sensacionalismo.


Sexta. Me dirigi a um salão de cabeleireiro, para reduzir meu corpo capilar que se avolumava, começando a desenhar um black-power. Então cortando pela primeira vez no citado recinto, o profissional, no intento de ser agradável, começou a puxar conversa. Falou do jogo Alemanha e Argentina que transcorria no salão repleto de televisores e distraía os profissionais na execução de suas funções. Eles viam mais o jogo do que cortavam, mas enfim, não me importa os ganhos do patrão. Dado momento o rapaz, simpático, contudo sério, me perguntou onde eu morava. Respondi e lhe devolvi a pergunta. Ele disse que havia morado na Glória, num passado recente, um apartamento amplo com uma bela vista para todo Aterro do Flamengo. A imagem do Aterro contemplado obliquamente por uma grande janela em um dia ensolarado reluziu na minha mente. Ele continuou dizendo que agora estava na Tijuca, em um apartamentinho de fundos – escuro e triste, pensei. Nesse momento ele focou no espelho e seus olhos deram uma leve suspirada – ele se lembrava do apartamento na Glória.

Olhei para o nada também, de forma a não ficar perdido na situação. A tesoura reduzia meu cabelo tirando curtos fragmentos de cada fio; tudo ocorria com agilidade, enquanto as idéias fluíam sem pressa. É o tempo da nostalgia. Nem devagar demais, nem corrido demais. Parece que relembrar outros tempos e lugares reclama uma pausa ao tempo presente. A verdade é que talvez devesse ser assim, pois não é, sabemos. Os fragmentos tomavam o pano, que estendido sobre o meu tronco, ficava monocromado, inúmeros os salpicados de pontos pretos (os brancos não eram muito visíveis).

Antes, porém, que eu preenchesse tantas linhas com meus pensamentos, voltemos ao suspiro no olhar do pobre profissional da estética. Ele lembrava do seu apartamento amplo e iluminado, saudava a grande janela que lhe oferecia aquela portentosa fotografia do Rio. Foi quando complementou com uma frase que me induziu a certeza de que ele era, nesta cidade, mais um emigrante:

Era lindo! Dava para ver todo Aterro... você olhava e se sentia morando no Rio de Janeiro... eu gostava muito de lá. Mas acabei me mudando, tô aqui... mass.. espero voltar para lá um dia... – o apartamento estaria guardado esperando pelo retorno dele? Teria sido vendido? Que fim teria tido? Morar no Rio de Janeiro era com certeza o sonho dele. Donde vinha não sei dizer, não perguntei, achei invasivo indagar e a conversa não correu para esse sentido. Seu pensamento corria meio solto, ele não tinha muita preocupação de articular frases, mas sim idéias. Falou das praias, do clima... Era o clima, o vento, o cheiro, o ar dessa cidade que ele exaltava. Não me intrometi na exteriorização, não quis atrapalhar, desviar, conduzir à minha visão.

Repassei o que ele havia falado e mirei admirado pelo espelho. Sim! Sentir-se morando no Rio de Janeiro, mas isso era tão óbvio! Será que eu fora o último a pensar nisso? Um apartamento sem janelas, pequeno, com pouca respiração, é igual em todo canto. Todavia, aquele panorama de cartão postal do Aterro era único, não há canto do mundo no qual se repita. Genial? Seria exagero dizer isso. Também não era uma idéia distante da maioria, nem complexa. Realmente creio que fui o último a perceber isso... ou a dar atenção de que isso é um ângulo do que significa “morar no Rio de Janeiro”. Essa é a visão de quem sonha virar morar aqui, ascender, ter uma vida boa, lograr na realização das ambições.

A Argentina fez um gol e a grita vinda de alguma proximidade foi alta. Alguns no salão se lamentaram e os cabeleireiros, após o replay, voltaram-se às cabeças de seus clientes. De pontinha em pontinha, meu cabelo foi ficando pelo chão e sobre o pano. Então o corte acabou para a felicidade da minha impaciência. Me despedi do cabeleireiro, paguei, naturalmente, e saí do salão. Mal cruzo o portal, a Alemanha empata o jogo e dessa vez os gritos se fizeram ouvir mais longe, ecoaram: coisa de brasileiro, rixa com argentinos... coisa de carioca e, porque não, coisa de migrante.

21.6.06

Dos relógios


Eu quase não uso relógio. Acho um objeto belo, sem dúvida, mas desde pequeno nunca entendi porque raios as pessoas usavam aquela pulseira com uma caixinha acoplada. Sempre ouvia, impacientemente, que era para saber o horário. E daí?

- Mas o horário de quê??
- O horário das coisas! As pessoas têm coisas para fazer...
- Uhm...


Nada disso nunca me convenceu. Até hoje não me convence. Belíssimos os relógios, os quais giram nos seus ponteiros as horas de um universo sem hora. Todo dia, ao amanhecer, lá estão eles, milhares, um exército inteiro. Nas casas; paredes, eletrodomésticos, telefones, nas mesas, cabeceiras, criado-mudos, nas gavetas. Prontos para irem a qualquer lugar, firmes, seguros do horário - assim esperam seus donos atrasados quando os põem no pulso. Esperam, porque deles dependem. O homem talvez tencione ser assim.

Antes era o tempo do sol, dos galos, dos climas e estações. Hoje é o tempo dos relógios: precisos, seguros, rígidos, disciplinados, de alguma forma empedernidos. Não há chuva ou seca que detenha o homem e sua tecnologia, não há clima ou estação(até porque esses começam a se tornar cada vez mais difusas e inconstantes). Os galos viraram reminescências obsoletas, renitentes.

A música é diferente na marcação do tempo. suas batidas são leves, quase imperceptíveis sob a melodia que embalam. Na percussão, onde a batida sobressai, por vezes desrespeita-se a marcação cadenciada que os relógios obedecem militarmente, religiosamente, cortando com marteladas o fluir do tempo inventado, abalando a maciez do que desliza, incomodando o silêncio supremo das madrugadas, sendo a pedra no curso do rio.

Os homens projetaram os relógios. Hoje os relógios se projetam sobre os homens.

Deles não quero depender nunca. E que me desculpem os atrasos.



O Relógio


1.
Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.

Uma vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade

que continua cantando
se deixa de ouvi-lo a gente:
como a gente às vezes canta
para sentir-se existente.


2.
O que eles cantam, se pássaros,
é diferente de todos:
cantam numa linha baixa,
com voz de pássaro rouco;

desconhecem as variantes
e o estilo numeroso
dos pássaros que sabemos,
estejam presos ou soltos;

têm sempre o mesmo compasso
horizontal e monótono,
e nunca, em nenhum momento,
variam de repertório:

dir-se-ia que não importa
a nenhum ser escutado.
Assim, que não são artistas
nem artesãos, mas operários

para quem tudo o que cantam
é simplesmente trabalho,
trabalho rotina, em série,
impessoal, não assinado,

de operário que executa
seu martelo regular
proibido (ou sem querer)
do mínimo variar.


3.
A mão daquele martelo
nunca muda de compasso.
Mas tão igual sem fadiga,
mal deve ser de operário;

ela é por demais precisa
para não ser mão de máquina,
a máquina independente
de operação operária.

De máquina, mas movida
por uma força qualquer
que a move passando nela,
regular, sem decrescer:

quem sabe se algum monjolo
ou antiga roda de água
que vai rodando, passiva,
graçar a um fluido que a passa;

que fluido é ninguém vê:
da água não mostra os senões:
além de igual, é contínuo,
sem marés, sem estações.

E porque tampouco cabe,
por isso, pensar que é o vento,
há de ser um outro fluido
que a move: quem sabe, o tempo.


4.
Quando por algum motivo
a roda de água se rompe,
outra máquina se escuta:
agora, de dentro do homem;

outra máquina de dentro,
imediata, a reveza,
soando nas veias, no fundo
de poça no corpo, imersa.

Então se sente que o som
da máquina, ora interior,
nada possui de passivo,
de roda de água: é motor;

se descobre nele o afogo
de quem, ao fazer, se esforça,
e que ele, dentro, afinal,
revela vontade própria,

incapaz, agora, dentro,
de ainda disfarçar que nasce
daquela bomba motor
(coração, noutra linguagem)

que, sem nenhum coração,
vive a esgotar, gota a gota,
o que o homem, de reserva,
possa ter na íntima poça.

(João Cabral de Melo Neto)

De acordo com o já dito anteriormente, esse poema me lembra outro do mesmo autor que eu acho fantástico pela beleza da imagem que cria.


Tecendo a Manhã


1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

(João Cabral de Melo Neto)



Esperança de que o homem ao trocar o colorido, vivo e diverso canto dos pássaros afinados, pelo grito monótono e inflexível do pássaro rouco, não troque junto suas cores e se torne um homem monocromático. Um sim para os artistas do cotidiano, todos os nãos para os operários do dia-a-dia. Boa falta de tempo para vocês.

15.6.06

Reflexões acerca da Copa do Mundo e dos esportes na mídia...

Unidos por um objetivo: ver o Brasil alcançar o hexa! (diz um anúncio de um shopping carioca; textos similares correm por todo país)

...e depois... cada um por si de novo, não é?

Essa imprensa brasileira é muito ridícula mesmo. Vende a Copa, vende a seleção, vende o hexa, vende tudo que pode, vende os jogadores(não sem antes explorá-los com entrevistas nos momentos mais incovenientes)!

E quando eles reclamam - a exemplo de Ronaldinho, com a devida razão - põem o galho dentro, se eximem dessa falha, cada um da sua parte, pois sabem todos que a culpa pode ser partilhada em fatias quase idênticas. Agora, com a mesma cara lavada com a qual inflou o ego do país, criando uma tensão que pode se traduzir numa bolha que cerca o time brasileiro, composta de admiração e orgulho, criticam-no veementemente e mais, ironicamente, nos mesmos pontos nos quais antes exaltavam. Esse ufanismo e endeusamento aumentam as vendas, movimenta o mercado, comove o país. Porém, basta que um gol não saia, que um jogador tenha desempenho abaixo do esperado: e lá vai essa nossa imprensa, com o mesmo falaciosismo, execrá-lo, dependurá-lo numa cruz, deturpando os fatos(aumentam, diminuem, achatam, esticam: são verdadeiros artistas do marketing).

Não foi nem é diferente em outros esportes. Basta resgatar à mente a conduta diante de Gustavo Kuerten, nesse momento, esquecido pela mídia. Guga alçou altíssimos níveis no tênis e é tido, indubitavelmente como o melhor tenista da história do páis. A única atleta a fazer um feito próximo ou tal qual foi a tenista Maria Esther Bueno, nas idos anos de 57 à 67, seu auge. Entretanto, nunca é lembrado que o esforço de Guga e, principalmente, do seu técnico foram imensos, além de solitários. Contavam com o apoio da família e apenas o dinheiro do próprio bolso. Eles conseguiram, Guga ganhou uma partida atrás da outra e o país viu nascer um ídolo. O queridinho eleito pela mídia. Em decorrência, foi cobrado o preço da torcida: Guga tinha de ganhar, tinha de elevar o nome do país, honrar a nação.

Muito bem torcermos, contudo é certo que vejamos o atleta como um serviçal da nação? Alguém que chegou nas grandes competições numa jogada de extrema força de vontade e, lançando-se a sorte do destino, sagrou-se campeão, colhendo os frutos do próprio trabalho. Então, repentinamente nos apossamos da carreira dele e, sobre a condição de atleta, está a nacionalidade.

Não faço aqui uma acusação geral, mas antes, chamo à reflexão do quanto se cobra e pressiona os e as atletas do nosso país, que por vezes figuram solitários em um cenário caotico político, econômico, social, como redentores da alegria, da esperança. Nada como uma competição para nos tornar campeões em alguma coisa!

A Copa do Mundo de Futebol é sob uma análise de ambos lados, uma alegria pela enaltação do esporte, do homem seus valores ideais, concomitantemente, trata-se de uma fuga temporária que o brasileiro se apega diante do teatro político, da desordem jurídica, da má condição econômica na prática.

Mudando um pouco o rumo desse artigo e voltando ao jogo brasileiro: Brasil 1 x 0 Croácia - achei o resultado satisfatório. Não foi o futebol que gostamos de ver, ainda não. Aquele futebol solto, bonito, que encanta a todos, que flui. Mas dizem por aí que os times crescem mesmo é ao longo da competição e ela apenas começou. Os brasileiros reclamaram, pelos motivos postos em xeque aí em cima. Acho que considerando estréia, nervosismo e a condição 90% da seleção, foi uma boa partida. Deu para o "oba!", torcemos pelo "oba!-oba!"(mas sem muita pressão, por favor! [risos])


obs: Se o Ronaldo tá gordo, estou obeso! Ele só ainda não alcançou o pique, mesmo assim, prefiro Robinho em campo. Questão de gosto pessoal.

obs2: Ah, e pouco nos importa quem o jogador fulano de tal namora. Passar bem ambos, obrigado... o último apague a luz e feche a porta! Até breve.

Faço aqui um curto recesso até segunda. Feriado, não é minha gente? Bom Feriado a todos!

13.6.06

Rumal Ékissa!




(Furo de reportagem: foto da seleção entrando em campo para a peleja contra a seleção croatense. Abafa o ano dessa Copa.)

As flores estão nas peles dos nervos!

Ninguém se aguenta mais de aflição para assistir a primeira partida da seleção nacional no campeonato mundial. Sinceramente minha gente, hesse exa o Brazil leva muito fácil.

Pelo nível até aqui demonstrado pelas equipes participantes, se nosso escrete não falhar, pondo em campo seu arsenal completo e exercendo seu potencial com brasileiro, não há quem possa! Os demais times tem uma estrela ali, outra aqui, preparos físicos vigorosos, disposição. Porém-todavia-contudo-entretanto, não vi equipes tão bem entrosadas, habilidosas no trato com a bola, boas nos passes, nas finalizações. Ou esses jogadores são de má qualidade(joga fora) ou esses técnicos merecem demissão imediata(joga fora).

O mais impressionante é como as seleções podem retroceder. O time holandês de 1998 era notável, com aqueles gêmeos louros e um negão que detonavam(sim, não guardo nomes). Foi uma suadeira passar por eles, lembram? Taffareleco fez a diferença. Agora, o que se vê é um time regular, mas que, se bem marcado, se queda paralizado. Que dizer da Itália, senão: pobre Itália?! Alemanha não parece a da última Copa. Inglaterra: esse é o melhor que eles puderam produzir desde 1966? Pode ser que fale aqui um bom torcedor brasileiro, mas antes, alguém que viu os jogos e tem um nível de crítica futebolística. Diagnóstico: ou as seleções mostram a que vieram ou o Brasil massacra-las!

E quem será o vice? Torço pela Costa do Marfim! Por onde esses caras andavam que não em campo? O futebol deles é superior a muitas seleções consagradas. Ficavam se escondendo no meio das manadas, é a única explicação plausível que eu consigo pensar...

E para aqueles que se perguntam - Oh, e o que farei nesta terça?! - vai meu conselho vagabundo: Deitem as 4 da matina, durmam até as 2, acordem, almoçem e ASSISTAM O JOGO DO BRASIL!!!

Ótima programação, não?

Vou estar em família nesse primeiro embate e meus caros futuros leitores, onde estarão?

obs: bebam por mim, vou ficar no antibiótico. Uhm, delícia!

11.6.06

Humores, rumores, amores, dores....

"Tratados inúteis, ironias, sarcasmos, piadas sem-graças, trocadilhos sem fim, ironias, chatices, associações correlacionadas interligadas, manias, ironias, coisas boas da vida, pilantragem, safadeza, imaginação, sociedade, beleza, poesia(quem sabe), música, eventos culturais, minha vida(eventualmente), surrealismo, fantasia, non-sense, pseudo-roteiros, artes plásticas, fotos plásticas, pessoas de plástico, 7ª arte, sutilezas, agressividade, algo inteligente(eventualmente - mais "mente" do que "eventual"), crítica, contradição, humor, amor, rumor, dor, cor, odor e outras palavras que complementem ou não a rima(exceto rancor, recriminamos veementemente esse tipo de sentimento).

Tentarei dar o dom da palavra pelo menos uma vez a cada 15 dias, se a criatividade permitir, se o cotidiano conceder, se o clima não me deprimir, se eu não viajar, se as pessoas comparecerem, se eu tiver algo a acrescentar, se..."