Desenho: Edward Hooper - Night Shadow.
No caminho, em busca do caminho
(Nelson Galot)
Meu lugar é nos filmes, a literatura é o universo e na sua menor partícula, a palavra, se descobre meu sentimento. É na palavra, ou na inexistência delas, que vão, parcamente, preenchendo minhas razões, como um alvo que de tantos acertos descentralizados, tem seu centro destacado. Talvez aí esteja o exprimir almejado: no espaço em branco, no não-dito, no suposto vazio, na transparência – enxerga quem alcança. Dessa miopia mais de meio-mundo sofre.
A música é a trilha, por isso as notas musicais, só, puras, sem número, sem desenho, marca ou qualquer registro são tão bem-quistas. Dão forma sem definir, se moldam dentro de cada ouvido, cérebro, se encaixam no compasso, na pulsação, ora em andamento acelerado, ora lento. Essa música todos ouvem, muito baixa e longínqua, mais ouvem. Nas fotos da infância, nas mortes, nas separações ela se faz escutar.
E de tanto falar o mundo já cospe nos olhos, de tanta carga, tombo no chão, encharcado e confuso. Diz-se muito pouco e não acho a peneira correta e definitiva. Não me venham traduzir o ocaso, por favor. É preciso escutar com os olhos, o nariz e o tato. O mundo carece de concisão. Nós, pessoas, padecemos de carinho e atiramos a súplica ou o mando; sujeitamos até como penalizados.
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