Tua tristeza me é inspiradora, mulher. Teus lábios contritos, derredor dos quais deslizam lembranças que amargas no teu mais recôndito.
Ah, mulher! Tu guarda meses no ventre.
Poucos, mas muito poucos mesmo dos que circulam sobre esta Terra, têm a capacidade de pensar a vida como ti. Não uma coisa de livros, técnicas, doutrinas. Isso também vai; todavia, além das religiões, ciências, inclusive das artes diversas, há um pensar sentindo. Intuição? Há sim e muita. Razão? Também, claro. Somadas, unidas... transformadas em mais.
As pessoas desse planeta me parecem desesperadas em viver, mesmo que não saibam quê vivem. Tu não... engraçado.
Questionas, indagas, revertes cenas. Esqueces também, ora, és humana; cometes erros muitos! Porém, ao percebê-los, lamentas. Em longo prazo é possível que lhes gargalhe: tudo nessa vida vira história e, o que magoa, pode também ser rido. Tragédia e comédia diluídos.
És um obstáculo à mente dos outros. Vais ser sempre estranha. Isso pode ser ruim, não se sabe, afinal não conheces o outro lado da moeda. Tua perspectiva é sagaz, sensata, por isso dolorosa. No entanto, tu ris: zombeteira... irônica... Sabe o que é que há? É que quando miras o céu vês estrelas – talvez lua – pintadas num imenso manto negro...
e enxergas também buracos negros. Sabe que estão perdidos ali, naquela sombra toda. Então tua mente incorre que o mundo se acaba, que vida se engole. Aí já fomos engolidos. Essa palhaçada se acaba e está acabada; já que o tempo não existia antes, ele não existe agora. Ora, o tempo não pode ser inventado!
Essas idéias te dão uma ousadia imensa que, admirado aquele que observa, não compreende donde vem e nisso, ignora. Pensam-te doida ou retardada. Coitados.